"A SUBSTÂNCIA" PROMETE MUITO, MAS ENTREGA POUCO
Por Caesar Moura
16.10.2024
(PREFÁCIO)
Esse é o tipo de crítica mais estúpida que pode existir, a crítica do “Ah se fosse eu fazendo esse filme…”, mas a crítica mais sincera que posso dar no momento.
Vamos começar com um resumão do que você vai ler por aí sobre “A Substância” (“The Substance”, 2024) da diretora francesa Coralie Fargeat (até aqui mais conhecida por “Revenge” de 2017) e depois vamos aos fatos:
Estrela de um programa de Tv sobre Fitness com direito a estrela na Calçada da Fama e tudo, Elisabeth Sparkle (Demi Moore, a melhor coisa do filme e que poderia ter se saído ainda melhor num filme melhor) colapsa ao descobrir que será substituída na emissora por uma apresentadora mais jovem. Desesperada, acaba aceitando o convite misterioso para participar de um experimento chamado "a substância” que promete clonar uma versão mais jovem do usuário. A partir daí uma grande crítica contra o machismo e o patriarcado e o etarismo e a ditadura da beleza se dá em ritmo frenético.
Bem, tirando a sinopse, o resto é factoide de crítico delirante que precisa intelectualizar tudo que assiste para parecer relevante. Sem jamais se decidir por um estilo, ora realista, ora surrealista, ora bufônica, ora com interpretações exageradas, cartunescas, outras com tomadas minimalistas e cheias de “silêncio", “A Substância” - para o bem e para o mal - é exatamente o que escrevi acima como sinopse sem tirar nem por, sem nenhuma informação adicional, sem nenhum twist memorável, sem nenhum aprofundamento. E isso num filme não é exatamente uma boa notícia.
FOTO: DIVULGAÇÃO
Acompanhar uma história sem personagens carismáticos é uma das piores experiências artísticas que se possa ter. A abordagem de Fargeat é tão superficial que sem conhecer um pouco mais da personagem Elisabeth fica muito difícil entender suas verdadeiras motivações ou torcer por ela. Como Fargeat decide não nos dar informação nenhuma além da de que "a apresentadora estava levemente desapontada por estar sendo substituída por uma mulher mais jovem", passamos toda sua jornada nos perguntando: Pra quê isso tudo? (Seria essa a mensagem do filme, Fargeat é um gênio, e eu que sou um imbecil? Ah, adoraria que fosse isso, mas o “Pra quê tudo isso?” não trata dos procedimentos estéticos, de uma crítica à eles, mas no sentido de “De que lugar de dor essa personagem saiu a ponto de mesmo sendo famosa, rica e bonita ser tão solitária, introspectiva e frágil?”). Sabermos dos gatilhos que levaram a protagonista à esse estado derradeiro onde a encontramos é o que nos faria torcer para que tudo, até mesmo aquele procedimento extremo, desse certo e, quando desse errado, aí sim faríamos a pergunta “Pra quê tudo isso?” certa, no sentido de: “As mulheres não deveriam ser pressionadas a ter de se submeter a tortura de ter que parecer jovem!".
Outra oportunidade perdida foi a da crítica ao Patriarcado. Só em comédias românticas a gente vê essa história de que homem “feio" é super sincero em seus sentimentos e de que homens poderosos (Dennis Quaid, um peixe fora d’água, quase constrangedor) são machistas, cafonas, porcos e híper-sexualizados. Fargeat demonstra uma visão maquineísta e infantil do papel do homem na sociedade moderna: Tratá-los como cartoon, desenho animado é diluir o papel autoritário, violento e repressor que todo homem traz consigo, é enfraquecer o poder de fogo da crítica. Aliás, essa mesa crítica serve para a idéia de Fageat de "criticar" a exploração do corpo feminino na mídia, explorando o corpo feminino(!). Perdi as contas do número de vezes que a bunda empinada de Margaret Qualley (naquele tipo de interpretação que “não fede e nem cheira”) aparece em loop! A nudez de Demi aos 61 num contexto de discutir o etarismo é pertinente e celebrado, Qualley aparecer toda hora nua, toda hora com cara de quem tá gozando e em closes extremos e chatérrimos, é machismo mesmo. Não duvido que o filme virará o favorito dos CP (Cinéfilos Punheteiros, aqueles que num filme de 6 horas sabem a minutagem exata onde a atriz protagonista aparece nua) será um prato cheio.
Enfim, “A Substância” é um daqueles filmes que você tem que assistir e se isso não é Arte, não sei mais o que é. Agora, você Produtor de Conteúdo, Roteirista, Escritor iniciante que vai conferir aproveite para analisar o quanto um roteiro fraco empobrece uma boa idéia. Sim, por que o filme é cheio de boas idéias. É isso! Mais que bom ou ruim, “A Substância” é daqueles filmes tão cheio de potencial e boas idéias que a gente torce para ser provocado, para que seja bom e quando a gente descobre que não é e pensa em tudo que poderia ter sido (um delírio meio Kubrickiniano com um “Q" de Baz Luhrmann numa visão feminina única) fica levemente desapontado.
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