"GLADIADOR 2": NOVO CAÇA-NÍQUEL DE RIDLEY SCOTT
Por CAESAR MOURA
Como eu, o que você quer saber de verdade é se “Gladiator 2” (Ridley Scott, 2024) é melhor ou não que “Gladiador" (Ridley Scott, 2000) original estrelado por Russell Crowe: Vou responder e dizer por quê.
Antes, muito rapidamente, só para contextualizar o que falarei mais a frente, vamos saber de que lugar Ridley Scott fala hoje. Seu longa “Alien" (“Alien, o oitavo passageiro”, 1979) nasceu um clássico da ficção científica mundial impondo novos padrões (como o do protagonismo da heroína e não do herói, uma heroína aliás que mudaria as regras do jogo em Hollywood e abriria portas para um novo tipo de protagonismo feminino, menos “delicado”, “frágil" e mais ativo, violento atém), elevando as regras do jogo e alçando Sigourney Weaver ao estrelato. E não parou por aí, o cara ainda faria mais 2 clássicos: “Blade Runner” (1984) e “Gladiador”(2000). Com um currículo desses e sendo ele de uma geração que acreditava que sequências de filmes eram mico, falta de criatividade (idéia que perdurou durante todo os 1980, ganhando corpo nos 1990 e finalmente virando regra no século XXI que sobrevive desesperadoramente de franquias), foi um choque por exemplo descobrir que ele voltaria numa nova trilogia de “Alien” (“Prometheus" de 2012 é a única coisa que se salva).
A resposta para tal atitude foi revelada pelo próprio Scott que diz ter perdido muito dinheiro sem ter incluído uma cláusula de direitos sobre possíveis continuações ou desdobramentos (HQs, Livros, Séries, etc) advindos do trabalho, coisa que Spileberg, por exemplo, faz desde da década de 1990. Scott subestimou o poder de fogo das continuações e decidiu tirar a barriga da miséria agora em “Gladiator 2” (ele já sonha com o 3 e uma série), história que se passa 30 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme e que traz Lucius (o insosso Paul Mescal) agora adulto como o novo gladiador que sonha em se vingar do Comandante Romano Marcus Acacius (Pedro Pascal, aparentando estar ali só pelo cachê) que matou sua mulher amada.
DIVULGAÇÃO
CONTÉM SPOILERS
E é aí que começam as diferenças cruciais entre as produções: Enquanto “Gladiator 2” é uma história clichê sobre vingança que vergonhosamente copia quase que quadro a quadro o filme original, o primeiro era a história de um homem que só desejava chegar em casa depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Por isso nos indignamos com o que vai acontecendo com ele impedindo-o de ir para casa, por isso nos enfurecemos com ele quando descobrimos que não há mais casa para voltar, e por isso torcemos como os romanos nas arquibancadas para que ele mate quem lhe causou injusta dor. E quando ele morre e Scott nos presenteia com a cena seu espírito caminhando pelo campo de centeio enquanto a esposa e os filhos mortos lhe aguardam felizes, choramos em catarse: “Gladiador 2” não é sombra disso. E olha que Scott tentou, ah, como tentou. Copiou quadro por quadro do filme anterior, está tudo lá, Gladiador perde a mulher, Gladiador vira escravo e jura vingança, Gladiador faz amizade com sábio homem negro que morre aumentando seu ódio, Gladiador se destaca na arena, Gladiador tem a chance de lutar contra seu Algoz, Gladiador… Tudo, TUDO igual, e ainda assim sem empatia, sem nenhuma interpretação de destaque, pelo contrário, Denzel Washington prometeu mas não entregou em um de seus piores trabalhos na telona, Mescal não tem metade do carisma e do sexy apple do jovem Russell Crowe, Joseph Quinn e Fred Hechinger como os imperadores gêmeos estão quase homofóbicos na interpretação clichê de que todo imperador louco era afeminado, como se ser gay e feminino fosse coisa de gente doida; Connie Nielsen reprisando Lucilla é totalmente desnecessário, visivelmente forçado e por fim, o final, uma afronta a quem gastou seu dinheiro suado para enfrentar uma plateia mal educada e assistir no cinema.
“Gladiador 2” funciona melhor se você assisti-lo como um filme autônomo, independente do primeiro, numa tarde de chuva, num streaming qualquer. De outra forma, você sairá do cinema como eu: querendo pedir o dinheiro do ingresso de volta ao Ridley Scott.
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