top of page
Foto do escritorMoura Cesar

"MAXXXINE" É UM FILME RUIM

Por CAESAR MOURA


Quando você lê desavisado a sinopse de “X" (no Brasil, “A Marca da Morte”, 2022) do cineasta americano Ti West a primeira coisa que vem a cabeça de qualquer cinéfilo é que “lá vem mais um filme sobre um grupo de amigos que saem para passar férias num lugar isolado e acabam morrendo um por um e fim”, em outras palavras, “lá vem mais uma porcaria” que chamam de “filme de terror". E aí está a primeira surpresa da produção: “X" é um filme bom. Já começa que logo nos primeiros 10 minutos ficamos sabendo sem rodeios que está todo mundo viajando mesmo para isso: transar. Afinal trata-se de um grupo de artistas independentes que no final dos anos 1970 dirigem para uma fazenda no interior do Sul dos EUA para gravar um filme pornô. O problema é que o casal de velhinhos sinistros donos do local não gostam nada de descobrir que o aluguel de sua propriedade era para tal fim. Claro que, surprise-surprise, tudo termina em sangue. E aí vem a segunda e mais impactante surpresa da produção: Mia Goth. A britânica neta de brasileira hipnotiza como a languida, ambiciosa e ingênua Maxine, um tipo de Lolita pós-moderna. Outro gol feito, esse, por Ti West: O cara não tenta reinventar a roda, resultando num filme enxuto, sem grandes jogos de câmera ou enquadramento, mas certeiro e competente apostando no simples. E como o novo amor de Hollywood são as franquias, o sucesso comercial (o filme custou 1M de dólares e gerou uma receita de cerca cerca de 15M, mais de 10x seu custo) foi determinante, abrindo as portas para ao menos mais 2 filmes da trama. 


E talvez esse seja o grande dilema que Hollywood vem enfrentando hoje desde de os sucessos absolutos da franquia Marvel “Vingadores"  (reafirmando o poder de fogo do modelo) e a crise aterradora causada pela pandemia: Hollywood precisa de franquias mesmo sabendo que nem toda história sobrevive a imposição de ter de se desdobrar em 3 partes. 


Foto: Divulgação


“Pearl" (2023) também de Ti West nos enganou bonito nesse quesito nos convencendo que esse não seria o caso da trilogia "X". Segunda parte da trilogia, o filme que já nasceu cult, malandramente é um prequel (recurso que muitos roteiristas usam para “ganhar tempo” para transformar uma idéia para 1 filme só em uma trama para mais 2 filmes), ou seja, uma história que se passa antes dos acontecimentos de “X”, le que dá a vantagem criativa de poder ser o capítulo mais independente da trilogia, afinal, o público poderia ter suas próprias expectativas sobre o que acontece com a sobrevivente do primeiro filme, mas está no escuro e curioso sobre o passado da história, algo sobre a qual ele não tem pista alguma.  


Em algum lugar da década de 1940, a jovem Pearl (Mia Goth) acredita desesperadamente que alcançar o estrelato é a porta de saída da vida anônima e insignificante que acha viver com sua família disfuncional em uma fazenda isolada no Sul dos EUA. A ambição delirante, obsessiva e perigosa de Pearl se intensifica ao conhecer o belo Projetista (David Coreswet, muito bem no papel) do cinema local e também quando decide participar de um teste para um show itinerante. Claro, nada poderia dar mais errado selando o destino sangrento da que viria a ser a velhinha assanhada e assassina de “X"


Ti West e Mia pegam esse fiapo de história e criam cenas fortes, cinematograficamente interessantes (como a cena com o espantalho, sensual, poética) e, com uma Direção segura e um figurino simples, mas marcante, elevam o nível da franquia ao nos surpreender com um filme - se comparado com “X”- mais maduro e sofisticado, criando uma grande expectativa para “Maxxxine" (2024) o filme que dá continuidade a saga da anti-heroína Maxine, a final girl de “X" e também aquele que encerra a trilogia. 


E é aí que o caldo desanda feio. Ambientada em 1985, acompanhamos a história da ascensão meteórica e previsível de Maxine ao estrelato em meio a muito, muito sangue. Enquanto “X" e “Pearl” são 2 bons filmes dramáticos de terror, principalmente o segundo, “Maxxxine" é um filme de terror com crise de identidade e contaminado pela pretensão. O filme não sabe se é slash, se é uma comédia (fraca), se é uma homenagem às produções trash dos anos 1980 (ou se é só um roteiro ruim mesmo) ou se é um primo pobre do Tarantino ou mesmo um filho bastardo de “A Morte do Demônio” (“Evil Dead”,1981). Agora, incomodo mesmo é ver Goth fazer uma Maxxxine que em nada lembra a Maxine do primeiro filme, mas sim Pearl! Parece que estamos vendo a continuação de “Pearl” e não de “X” e isso é um erro grotesco. Enquanto que em “X" Mia Goth equilibrava aparentemente sem esforço sua voz infantil e aguda carregada do sotaque sulista americano com seu eterno look cocaine (expressão talhada nos anos 1980 para denunciar celebridades e modelos que apareciam absurdamente magras e olhos vidrados, vazios, promovendo uma beleza branca e uma sensualidade fria e distante, típicos dos usuários de cocaína, “droga da moda” na primeira metade da década), na continuação Goth faz de Maxine uma psicopata anestesiada 24 horas por dia, ou seja, durante todo o filme. Como termos qualquer tipo de conexão com uma protagonista que só faz alternar apatia com arrogância? A expressão da Mia é a mesma do primeiro ao último Frame do filme. 


Ah, e a cereja do bolo: Justificar a psicopatia de Maxine com um relacionamento abusivo do Pai (o famoso Dad Issues, termo americano debochado e machista usado para desumanizar qualquer mulher que trabalhe no Mercado Erótico, seja a Stripper, a Prostituta ou a Atriz Pornô) além de preguiçoso foi bem misógino. 


“Maxxxine”, que você ainda assiste nos cinemas, é um filme ruim. Pena. O Terror, gênero injustamente ainda subestimado, sempre perde um pouco quando coisas assim acontecem. Nos resta agora torcer pelos próximos (Sim, Ti West já mandou avisar que tem ideia para mais 3!). 





37 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page